Sempre tive orgulho do Brasil! O MEU
país! Falo de boca cheia. Sempre falei. Mesmo antes dessa temporada em Madrid. Tem
muita coisa errada? Tem. Mas também tem um povo alegre, trabalhador, uma cena
cultural de primeiro mundo (mas que, infelizmente, não chega à massa), enfim...
Muitos motivos pra ter orgulho!
Chegamos aqui faz quase um ano. Achei
o máximo o quanto o povo vai pras ruas. Velhos, jovens, crianças, adultos, todo
mundo bota a boca no trombone pelos seus direitos. Fomos às manifestações pra
observar (não manifestávamos nem nada, porque estamos aqui só de passagem), e
todas as vezes, com um nó na garganta e umas lagrimetas escorridas, comentava
com o Fred: “Caramba. Por que no Brasil não é assim, né? Somos tantos, muito
mais que em quase qualquer país do mundo e não temos coragem de dar a cara pra
bater? Por que não vamos pras ruas, gritar que os políticos só fodem a gente (salvo
raras exceções, que espero que nunca se corrompam e apenas se multipliquem, porque
SIM, vocês fazem diferença nessa porra de mundo!) e pedir novas leis e
reivindicar nossos direitos? ”. E isso me inclui também, porque sempre fui
ativista de sofá... Ou seja: reclamava, mas não fazia nada de concreto pra
mudar.
Demorou um pouco, mas finalmente o
Brasil foi pra rua! E como eu me orgulho disso! E sofro por não estar no MEU
país para participar desse momento histórico. Momento de revolução. Movimento. Saco
cheio. Cansaço de sermos feitos de trouxa, de não nos sentirmos representados
por NENHUMA força política.
Agora as lágrimas caem de orgulho
do POVO DO MEU PAÍS, que resolveu acordar.
E toda essa revolução não tem
nada a ver com a merda dos R$ 0,20 (que hoje em dia, inclusive, não são suficientes
nem pra comprar um pãozinho no Brasil). Essa revolução é porque a gente tá
cansado de um ensino de merda, de uma segurança de merda, de uma saúde de
merda, de um transporte (e muito bem pago!) de merda, de um salário mínimo de
merda, de taxas e impostos de merda (que não são utilizados a nosso favor), de
uma corrupção de merda e do poder nas mãos de uma gente de merda.
Vandalismo não. Os revolucionários
NÃO querem violência. Mas infelizmente, no meio de toda concentração de gente, tem
arruaceiro e vândalo também. E é assim em qualquer lugar do mundo... Madrid, Paris,
São Paulo... Vandalismo existe em todas as partes.
Mas do outro lado também tem a polícia
despreparada, que já é sofrível. Abuso de poder, covardia, tudo errado. Agora pior:
a polícia contra o povo? Polícia descendo bala de borracha na imprensa, que tá
ali trabalhando, tanto quanto eles? (também não são todos, mas infelizmente, nessas
manifestações têm sido a maioria. e pior: isso acontece frequentemente na periferia, independente de qualquer manifestação). A que lado eles acham que pertencem, com
seus maus salários e péssimas condições de trabalho?
Estamos TODOS JUNTOS, no mesmíssimo
barco. Bons políticos, policiais, ricos, pobres, velhos, jovens, heteros,
homos, NÓS somos o povo. Todos juntos! Somos mais de 190 milhões de seres
pensantes, que dizem NÃO À VIOLÊNCIA sem deixar de lutar pelos nossos direitos.
Porque temos deveres demais pra não termos direito a NADA púbico de qualidade.
E não podemos esquecer que isso
tudo acontece enquanto os políticos “trabalham” de segunda a quinta-feira
(quando aparecem), com milhares de regalias, assessores da sua família, salários
exorbitantes e nós, sejamos da classe A, B, C, D, E ou Z, estamos ralando que
nem uns condenados, pagando impostos abusivos e recebendo porra nenhuma em
troca.
E por que agora? Porque a gente é
inteligente. A gente sabe que o mundo tá olhando pro Brasil por conta da Copa, então,
esse é o momento de fazer barulho por um país melhor. Porque se não for por
nós, pelo menos vai ser pela vergonha de sermos defendidos até pelo resto do
mundo, como estão fazendo outros ativistas e veículos de comunicação realmente sérios.
Agora tá rolando outra manifestação
aí em São Paulo e amanhã é aqui em Madrid. E ali estaremos!
Chega de reclamar na roda do bar,
no almoço com a família ou enquanto assistimos aos telejornais. É hora de tirar
a bunda do sofá e fazer algo por um país melhor pra nós, pros nossos filhos,
netos e quem mais vier pela frente.
Desculpe o transtorno, mas
estamos mudando (e vamos mudar!) o país!
Em tempo: a solução para qualquer
problema social é a educação.
Faltam professores com melhores salários
+ material didático e condições de trabalho.
Faltam pais com mais tempo pros
seus filhos e não tendo que fazer hora-extra pra garantir o sustento da sua
casa (e não importa se é o motorista ou o motoboy que, cansados pra caralho, depois
de um dia inteiro num trânsito filho da puta como o de São Paulo, fazem uma “viagem
extra” pra poder tomar uma cerveja no final de semana ou se é um executivo de
alto escalão, que SIM, também trabalha pra caralho porque seu cargo de
confiança exige).
E pior ainda: faltam mães com
mais tempo com seus bebês e não que, no 4º mês, tenham que deixá-los numa escolinha
ou com a babá (para quem tem dinheiro, mas também rala pra pagar as contas) ou
tentar uma vaga em uma creche pública (se tiver muita sorte!) ou com as avós
(se elas também não estiverem trabalhando (ainda!) pra ajudar no sustento,
porque a aposentadoria é uma vergonha).
Resumindo: a educação é a única chance
para tentar (começar a) melhorar a porra o país.
E os R$ 0,20 são apenas uma
desculpa pra começar uma grande revolução. Os R$ 0,20 são um pretexto de muitas
manifestações que virão, por toda merda errada que fazem no nosso país, porque
a gente não quer mais engolir sapo nem ser feito de trouxa! Ninguém mais cala nossa boca!!!!